À medida que a nostalgia pelo começo da década de 1960 persiste, várias fragrâncias masculinas daquele período estão ganhando uma nova chance
Michael Walker, The New York Times
À medida que a nostalgia pelo começo da década de 1960 persiste, várias fragrâncias masculinas daquele período estão ganhando uma nova chance. Seus nomes lembram ternos de dois botões da Botany 500 e martínis bebericados na primeira classe de um 707: Eau Sauvage, Habit Rouge, Pour Monsieur. E embora as vendas correspondam a uma fração do mercado total de fragrâncias masculinas finas nos Estados Unidos, especialistas do setor reconhecem sua relevância duradoura. ''Elas são referências – tudo que veio depois é praticamente um descendente direto’', disse Grant Osborne, fundador e editor do Basenotes, site para fãs de perfumes.
O Pour Monsieur, da Chanel, lançado em 1955, ''sem dúvida nenhuma deveria estar sob uma redoma de vidro triplo ao lado do metro e do quilograma no Pavilhão de Breteuil como referência de fragrância masculina’', escreveu Luca Turin, biofísico, pesquisador olfativo e autor de ''Perfumes: The Guide’' (Viking, 2008). Eau Sauvage, da Christian Dior, lançado em 1966, revolucionou a categoria masculina como o primeiro perfume a abusar de hedione, equivalente sintético do jasmim; Vetiver, da Guerlain, baseado numa erva da família do capim-limão e lançado em 1961 na onda de aromas similares da Givenchy (1959) e Carven (1957), continua a render versões modernas como o Grey Vetiver, de Tom Ford.
Essas fragrâncias masculinas clássicas ''deixaram impactos bastante duradouros no modo como as pessoas desenvolvem perfumes’', disse Eddie Roschi, fundador da perfumaria artesanal Le Labo, em Nova York. ''Veja o que a Guerlain fez com o vetiver, que resultou em tantas cópias. Em alguns países dá para senti-lo no metrô porque alguém está usando’'.(Na Europa, os clássicos continuam vendendo como se fosse 1969. No ano passado, o Eau Sauvage foi a terceira fragrância masculina mais vendida na França, segundo a empresa de pesquisa de mercado NDP Group, que registra as vendas em lojas de departamento.)
A moda das coisas retrô é uma oportunidade de marketing que não foi perdida pelos fabricantes de perfume. A Christian Dior promoveu o Eau Sauvage com uma campanha na mídia impressa e televisiva baseada numa foto de 1966 do ator francês Alain Delon. (A música do comercial trazia um trecho do tema de 'Mad Men’.) Numa época em que jovens modernos transformaram marcas agonizantes como Pabst Blue Ribbon e Parliament em declarações de moda, faz sentido que artefatos como Eau Sauvage e Habit Rouge possam seguir o mesmo caminho. Na verdade, o venerável Old Spice tem sido anunciado com tanta habilidade que a maioria dos usuários jovens não deve saber que a fórmula data de 1938 ou que ela foi baseada num perfume feminino.
Ano passado, o carro-chefe da linha Old Spice, incluindo o pós-barba original vendido num frasco com formato de boia, produziu uma receita bruta de US$ 33 milhões em pontos de venda de massa, sem contar o Walmart, de acordo com a empresa de pesquisa de mercado Symphony IRI, de Chicago. Já o Brut, lançado em 1964 e que teve Joe Namath, ex-jogador de futebol americano, como garoto-propaganda, abocanhou uma receita bruta de US$ 9 milhões. ''Brut é um 'fougère’ incrível’', disse Roschi, referindo-se à família de fragrâncias baseadas na lavanda que também inclui o Canoe em 1936 e em 1936 e que em 1936 e que continua em produção).
Mas para uma geração criada com CK Be e desodorantes em spray como Axe, os aromas retrô não são uma venda fácil. Na Beverly Hills Perfumery, que conta com uma seleção abrangente de perfumes ''vintage’', o proprietário, Alan Berdjis, borrifou um cartão com Pour Monsieur e fez uma inalação longa. ''É um tipo de creme cítrico ralo’', ele disse, aprovando. Mas Berdjis, 30 anos, acrescentou: ''Se isto fosse lançado hoje e não tivesse o apoio da marca Chanel, não acho que se sairia bem’'.
Por quê? ''Você cheira e sabe que é uma fragrância antiga’'. Representando o novo temos o Acqua di Gio, lançado por Giorgio Armani em 1996, que é a fragrância masculina fina mais vendida nos últimos dez anos, segundo o NDP Group. O Acqua di Gio popularizou o consenso ''aquático’' leve e tranquilo que domina as fragrâncias masculinas hoje em dia e inspirou inúmeras imitações – nas palavras de Turin, ''um montão de coisinhas tímidas, pálidas, deprimidas, rápidas e trêmulas que, provavelmente, são impossíveis e, certamente, não valem a pena distinguir’'.
Comparados aos aquáticos joviais, os aromas clássicos dos anos 60 – com notas de base de almíscar, musgo de carvalho, sândalo e couro – podem parecer pesados como chumbo para narizes mais jovens. Contudo, os aquáticos unissex doces estão perdendo participação no mercado para aromas agradáveis de madeiras e especiarias. Das quatro principais fragrâncias masculinas lançadas em 2010, ''duas eram madeiras, uma era madeira oriental e somente uma era água’', declarou Karen Grant, analista de cosmetologia do NDP Group.
O lançamento ano passado de Bleu de Chanel que, apesar do nome lembrando um esporte aquático, é considerado da família das madeiras aromáticas, foi um sinal de que o pêndulo está virando para o consenso terrestre. O produto é o terceiro perfume masculino mais vendido nos Estados Unidos. Segundo Grant, os homens são muito mais leais a marcas do que as mulheres no que tange a fragrâncias. ''É por isso que quando algo se transforma num aroma de ponta ele continua assim; é difícil entrar nesse ranking’'. Ainda segundo ela, pesquisa após pesquisa, os homens dizem que o principal fator para comprarem um perfume é quando ele agrada as parceiras. ''Muitas mulheres acham que as fragrâncias masculinas mais novas são meio femininas’', disse Berdjis, sentimento deixado claro pela recente campanha 'The Old Spice Guy’', que zombava enfaticamente das 'loções corporais com cheiro de mulher’ usando o slogan 'cheire com um homem’.
De acordo com Berdjis, as clientes de sua loja ''compram fragrâncias antigas para presentear os namorados’'. ''Sua preferência num homem remete a um cheiro mais masculino. O que talvez diga como a sociedade mudou – não existiam metrossexuais nos anos 1960’'. Na verdade, a composição de uma fragrância masculina hoje em dia, afirma Roschi, que usou o Chanel Nº 5 durante vários meses, ''será muito mais diversa do que nos anos 1950 e 1960 porque a masculinidade evoluiu muito’'.
Veja.com
Quem de nós mortais, consegue viver sem perfumes? Com certeza somente um louco ou alérgico. Nós nos rendemos as fragrâncias, e cada um tem uma nota que combina com sua personalidade. Perfumes marcam pessoas, e muitas vezes um perfume faz lembrar você.
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