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B2ST, boy band de K-pop |
Em meio ao domínio do pop ocidental na indústria fonográfica, artistas asiáticos, árabes e do leste europeu desembarcam aos poucos no Brasil, para a alegria de um público ainda reduzido, mas fanático.
Num universo em que divas pop como Lady Gaga e Katy Perry dominam as rádios, artistas como BoA, B2ST, Ayumi Hamasaki, Nancy Ajram e Cheb Khaled podem parecer apenas nomes de pronúncia difícil. No entanto, eles representam um filão da indústria pop que cresce à revelia do mainstream e tem não apenas fãs, mas fanáticos em seu encalço. É o que deve provar o United Clube Concert, festival que espera reunir 5.000 pessoas em São Paulo nesta terça-feira, 13, atraídas por atrações do K-pop, o pop produzido na Coreia do Sul. O ingresso mais barato do evento, o da pista comum, custa 200 reais. O outro, o da vip, sai por 350. Não faltam compradores: na tarde da última sexta, a pista vip estava praticamente esgotada.
Entre os árabes, o sírio George Wassouf esteve em maio deste ano em São Paulo e a libanesa Nancy Ajram tem passagem prevista pela cidade em 2012. Ela será trazida pelo empresário Raymond Bourdoukan, coordenador do Grupo 1001 Noites, especializado em espetáculos da cultura árabe. Mesmo que não marque presença em vitrines de massa como o Domingão do Faustão, Nancy não passará despercebida. A técnica de eletricidade e também dançarina Celia Daniele, que mora no Rio de Janeiro, é uma das que pretendem ir ao show.
Celia, que alimenta um site sobre dança do ventre, reconhece que o público do estilo é formado basicamente por dançarinos, músicos ou descendentes de árabes. Mas, diz, se trata de um público fiel, “viciado” como ela na sonoridade do Oriente Médio, que compra discos importados – nenhuma grande gravadora nacional tem subpops no catálogo – e é capaz de atrair seus ídolos até aqui. “O pop árabe tem uma batida e um ritmo próprios, que os distinguem de outros sons. Gosto dele como quem gosta de forró e só escuta esse som”, diz. Os cantores mais conhecidos no Brasil são o egípcio Amr Diab, um bem sucedido cantor com 50 milhões de CDs vendidos em quase 20 anos de carreira, o argelino Cheb Khaled e a já citada Nancy Ajram.
O mundo subterrâneo do pop oriental não para por aí. A Índia tem uma produção intensa ligada à indústria cinematográfica de Bollywood. As canções são cantadas por cantores profissionais, chamados de cantores de playback, e interpretadas pelos atores dos filmes. Esses cantores ficam conhecidos mais pelos longas-metragens em que colocam a voz do que pelas próprias carreiras. “O que fica para o público é o nome da canção, não o de quem a canta”, diz o músico Sandro Shankara, que divulga a música indiana, sua especialidade, em um blog. Para quem não tem acesso aos filmes de Bollywood, uma boa porta de entrada para o pop indiano é o longaQuem Quer Ser um Milionário (Danny Boyle, 2008), vencedor de oito estatuetas no Oscar de 2009. O filme é uma boa síntese do espírito do pop indiano: tem muita dança, muitas cores e uma mistura de batidas modernas com sonoridades regionais.
A música pop também possui uma vertente particular na Europa, o eurodance – ou eurotrash, como é chamado de forma pejorativa, decida o leitor por quê –, que tem na Romênia o seu principal palco. O país é exportador de artistas fabricados que têm invadido as mesas de som dos DJs brasileiros – e daí os ouvidos nacionais. “Não é só aqui que o eurodance faz sucesso. Até Lady Gaga se inspira no estilo, ela é chegada no eurotrash”, diz o apresentador da MTV, Didi Effe, o especialista em pop na emissora.
A mais recente novidade no nicho é a romena Alexandra Stan. Ela estourou com o single Mr. Saxobeat, que vendeu 1 milhão de cópias. “É um dance que poderia ter sido feito em qualquer lugar. Ele segue as regras do pop, tem letra simples e um refrão repetitivo”, afirma o VJ.
A força da Ásia – Não é novidade que a música pop construiu uma indústria, produzindo artistas com prazo de validade e perfis bastante semelhantes – são poucos os que se eternizam como Michael Jackson e Madonna, por exemplo. Azeitada nos Estados Unidos e exportada daí para diversos países, em nenhum lugar, contudo, essa indústria foi tão bem recriada como na Coreia do Sul e no Japão, os pais do K-pop e do J-pop. "O pop japonês nada mais é do que a versão, obviamente japonesa, do enlatado cultural americano”, diz Cristiane A. Sato, autora do livro Japop: O Poder da Cultura Pop Japonesa (Livrocerto, 39,90 reais). A China também tem o seu pop, o C-pop, mas ele é um primo menor dos outros dois. Para se ter uma ideia, o K-pop movimentou mais de 30 milhões de dólares em 2009, de acordo com a BBC, e o J-pop ocupou duas posições entre as dez músicas mais vendidas pela internet em 2008, segundo o New York Times. Já os dois principais nomes do C-pop, Jay Chou e Show Lou, venderam, respectivamente, apenas 110.000 e 155.000 cópias de álbuns lançados em 2010.
Grandes agências, como a coreana S.M. Entertainment e a japonesa Avex Trax, reúnem meninas e meninos novos em grandes competições. Os escolhidos passam por treinamentos intensos de canto, dança e interpretação para se tornar ídolos. Para chegar aos fãs, a maioria adolescentes, o pop asiático faz uso da TV e também, uma exclusividade da região, dos jogos de videogame e dos animes, os desenhos animados.
Marcelo Frazão é diretor-executivo de entretenimento da GEO Eventos, que traz o United Cube Concert para o Brasil e realizou um estudo sobre o público-alvo dos shows. “Temos analisado esses fenômenos localizados de música em diversas comunidades e o que mais nos chamou atenção foi o movimento do pop asiático. É um movimento globalizado, mas, no Brasil, é São Paulo quem tem interesse especial nesses subgêneros”, diz. O traço marcante dos fãs de pop asiático, segundo Frazão, é sua pouca idade e sua forte relação com a internet. “O K-pop é um fenômeno jovem baseado na web.”
Fãs em rede – Como não há gravadoras que se interessam por lançar artistas japoneses, coreanos, árabes e do leste europeu, a internet é o maior canal de divulgação dos subgêneros do pop, e também de troca entre os fãs. Alguns deles fazem movimentos on-line para que seus artistas venham para o país. Para Didi Effe, da MTV, o mercado dos subgêneros regionais é promissor no país. “É um mercado em que deviam mais prestar atenção."
Apesar de os álbuns não serem lançados no país, os fãs sempre dão um jeito de conseguir as músicas. Além da internet, produtos importados são adquiridos por aqueles que querem gastar um pouco mais. “Muitos fãs compram CDs, DVDs e roupas por lojas virtuais. O preço dos CDs gira entre 50 e 150 reais”, diz a k-popper Hellen França, que alimenta o site KDOfficial, um dos inúmeros que existem sobre o assunto. Já Celia Daniele tem um esquema de trocas para colecionar as canções árabes. “A maioria das pessoas consegue as músicas trocando CDs. Alguns compram álbuns importados e vão passando para outros.”
Fonte: Revista Veja
Por: Raissa Pascoal