sexta-feira, 23 de março de 2012

Há muito mais em 'Jogos Vorazes' que em 'Crepúsculo'(revista Veja)

Com um reality show em que crianças e adolescentes têm de matar uns aos outros, como numa arena, a saga tem uma complexidade moral capaz de deixar vampiros e bruxos comendo poeira. Promessa de estouro nas bilheterias, franquia estreia hoje em 623 salas no país.

Entrar para a seara das sagas juvenis é um negócio tanto promissor quanto arriscado. Se a história do bruxinho Harry Potter era elogiada pela crítica e adorada pelos fãs, o mesmo não aconteceu com a sua sucessora, a trama vampiresca Crepúsculo. Embora capaz de cativar um grande público -- seus quatro filmes fizeram 2,5 bilhões de dólares em bilheteria, um ritmo parecido com os de Harry Potter, cujos oito longas faturaram 7,7 bilhões --, a franquia despertou a fúria de parte da crítica especializada. Bastou para que qualquer saga baseada em um livro de fantasia para adolescentes fosse imediatamente condenada, até por quem não conhece a história. É essa disposição que muitos têm em relação a Jogos Vorazes, que estreia nesta sexta-feira nas salas de cinema do mundo todo -- 623 salas só no país. Mas a sensação logo irá embora quando leitores e espectadores perceberem que há muito mais nessa nova febre adolescente do que pode indicar um pré-conceito. 

Primeiro, porque em Jogos Vorazes nada é o que parece ser de fato. Amizades, romances, intrigas... tudo pode ser armado em prol da audiência de um reality show que é o mote da história e que lhe dá nome. O filme pode ser comparado em diversos aspectos ao BBB da Globo: são 24 participantes vigiados 24 horas por dia, e apenas um vence. A única e brutal diferença é que a regra de eliminação é mortal: para vencer, os participantes -- crianças de 12 a 18 anos -- têm de aniquilar uns aos outros, custe o que custar. A maioria também é obrigada a participar; e raramente há um voluntário. Mas a complexidade moral de Jogos Vorazes dá um banho em qualquer reality show existente. Sem poder escolher, os participantes se veem obrigados a matar amigos, colegas e até interesses amorosos. Interesses amorosos, aliás, parecem ser, um para o outro, a protagonista Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) e Peeta Mellark (Josh Hutcherson), representantes do Distrito 12 de Panem. Uma impressão que, no entanto, não se confirma no longa ou no livro: leitor e espectador ficam na dúvida se o romance é real ou meramente ficcional, feito para atrair torcida.
Esta é a grande vantagem de Jogos Vorazes. Ao contrário de Crepúsculo e de Harry Potter, a série passa longe do maniqueísmo. Assim como na vida real, nada é “preto no branco”. Não existe bem ou mal, ou, se existe, é bem difícil traçar uma linha entre os dois. Afinal, na vida real, as pessoas mentem, fingem, enganam, se passam por algo que não são. Por que na ficção seria diferente? Essa proximidade com o realismo é uma das melhores características da série.
O roteiro, por exemplo, é traçado dentro de um contexto pós-apocalíptico, em que a América do Norte foi destruída por guerras e catástrofes ambientais (provavelmente ligadas ao aquecimento global) e transformada em um novo país chamado Panem. Na época em que se passa o livro, ele é dividido em 12 distritos e uma capital. Mas, alguns anos antes, havia um 13º distrito, que se rebelou a fim de conseguir sua independência e acabou dizimado pela capital. Para evitar novas rebeliões, o governo então institui os jogos como forma de punição. Pensando bem, não é uma realidade tão absurda.
Sucesso – Embora tenha atraído os mesmos fãs de Crepúsculo, tudo indica que Jogos Vorazes irá ainda melhor que a saga vampiresca no cinema. Há dias, mais de 3.000 sessões estão esgotadas nos Estados Unidos, o que já rendeu milhões de dólares em bilheteria, números que ultrapassam com folga Crepúsculo, de acordo com o site Fandango, principal vendedor de ingressos online, e isso sem o filme nem ter estreado. Segundo o site da revista Entertainment Weekly, se as previsões se confirmarem, o longa poderia arrecadar entre 90 milhões e 120 milhões de dólares já no fim de semana de estreia.
Tudo graças a ótimas ações de marketing, claro. Somente em publicidade, o estúdio gastou 45 milhões de dólares, mas o número é baixo em relação a outros blockbusters – ainda mais se for capaz de render bilhões. Desde o ano passado, Jogos Vorazes tem estampado a capa de muitas revistas americanas. O estúdio Lionsgate, responsável pelo filme, também tratou de encontrar fãs onde os adolescentes mais passam tempo: no Twitter e Facebook. Nas redes sociais, o estúdio fez promoções que envolviam caças ao tesouro que duravam semanas. De adolescente para adolescente, a estratégia de Jogos Vorazes já é um sucesso.

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