Gosto muito dos livros de
Georges Simenon. Seus romances policiais instigam o nosso lado investigativo. Confundimos-nos
com suas personagens e passamos a ser à sombra de Maigret para onde quer que
ele vá. A editora L&PM nos traz uma
bela coleção dessas aventuras de Maigret. Por um bom tempo eu indiquei esses
livros a alguns amigos, chegando a presentear outros com exemplares. Indico por
saber que se trata de uma leitura de bom gosto e prazerosa.
MAIGRET
Um certo inspetor
Lauer, que é sobrinho de Maigret, está numa delicada situação profissional. Ele
não foi capaz de evitar o assassinato de um homem que estava sob sua
vigilância, Pepito, o chefe de um bar chamado "Floria". Além disso,
Lauer é o principal suspeito do crime, devido ao modo como entrou em pânico.
Enquanto aproveita a sua aposentadoria às margens do Loire, Maigret recebe a
visita de seu sobrinho que implora por sua ajuda. Ele concorda, mas encontra
dificuldades com seus antigos colegas.
Este é o único romance em que Maigret resolve
um crime durante sua aposentadoria. Simenon queria que esse fosse o último da
série, pois desejava se dedicar inteiramente aos chamados "romans
durs", os romances "não Maigret". Após 1933, ele realmente
ficou cinco anos sem escrever nenhum romance Maigret (apenas alguns contos),
mas após este período voltou a se dedicar ao seu famoso inspetor chefe.
Antes de abrir os olhos, Maigret franziu as sobrancelhas, como
tivesse desconfiado da voz que vinha lhe gritar do fundo do seu sono:
- Tio!
Com as pálpebras ainda fechadas, ele suspirou, tateou o lençol e se deu conta de que não sonhava, que algo estava acontecendo, pois sua mão não encontrou, onde deveria estar, o corpo quente da Sra. Maigret.
Abriu enfim os olhos. A noite era clara. A Sra. Maigret, de pé junto à janela de vidros quadriculados, abriu a cortina, enquanto alguém embaixo batia à porta e o ruído repercutia por toda a casa.
- Tio! Sou eu!
- Tio!
Com as pálpebras ainda fechadas, ele suspirou, tateou o lençol e se deu conta de que não sonhava, que algo estava acontecendo, pois sua mão não encontrou, onde deveria estar, o corpo quente da Sra. Maigret.
Abriu enfim os olhos. A noite era clara. A Sra. Maigret, de pé junto à janela de vidros quadriculados, abriu a cortina, enquanto alguém embaixo batia à porta e o ruído repercutia por toda a casa.
- Tio! Sou eu!
A FÚRIA DE MAIGRET
A LOUCA DE MAIGRET
A PRIMEIRA INVESTIGAÇÃO
DE MAIGRET
AS FÉRIAS DE MAIGRET
MAIGRET E A MORTE DO
JOGADOR
MAIGRET E A MULHER DO
LADRÃO
MAIGRET E O CLIENTE DE
SÁBADO
MAIGRET E O CORPO SEM
CABEÇA
MAIGRET E O FANTASMA
MAIGRET E O FINADO SR.
GALLET
MAIGRET E O HOMEM DO
BANCO
MAIGRET E O LADRÃO
PREGUIÇOSO
MAIGRET E O MATADOR
MAIGRET E O MENDIGO
MAIGRET E O NEGOCIANTE
DE VINHOS
MAIGRET E O SUMIÇO DO
SR. CHARLES
MAIGRET E OS COLEGAS
AMERICANOS
MAIGRET E OS CRIMES DO
CAIS
MAIGRET E OS FLAMENGOS
MAIGRET E OS HOMENS DE
BEM
MAIGRET E SEU MORTO
MAIGRET EM NOVA YORK
MAIGRET EM VICHY
MAIGRET NA ESCOLA
MAIGRET SAI EM VIAGEM
MAIGRET SE DEFENDE
MAIGRET SE DIVERTE
MEMÓRIAS DE MAIGRET
O AMIGO DE INFÂNCIA DE
MAIGRET
O MEDO DE MAIGRET
OS ESCRÚPULOS DE
MAIGRET
O MEDO DE MAIGRET
O REVOLVER DE MAIGRET
UM FRACASSO DE MAIGRET
UM ENGANO DE MAIGRET
GEORGES SIMENON
Nas primeira horas da
sexta-feira dia 13 de fevereiro de 1903, nasce em Liège, na Bélgica, Georges
Joseph Christian Simenon, filho do contador Desiré Simenon e Henriette.
Supersticiosos, os pais registram o primogênito como nascido às 23 horas e 30
minutos do dia 12. Em 1906, nasce Christian, único irmão de Georges, que
desempenhará um papel crucial nas relações da família: torna-se o preferido de
Henriette, que relegará Georges a um segundo plano.
No colégio jesuíta Saint-Servais, Georges toma
consciência da sua inferioridade social: a maioria dos seus colegas são
internos, enquanto ele freqüenta a escola em regime de semi-mensalidade,
especial para crianças modestas. O futuro escritor abandona os estudos antes de
completar o secundário e, adolescente, enquanto pula de aprendiz de confeiteiro
a bibliotecário, revolta-se contra o meio medíocre em que vive. Por essa época
é tomado de um fascínio por cabarés e pelo mundo da prostituição, que
permanecerá no seu imaginário. Aos 15 anos torna-se repórter de generalidades
no jornal católico Gazette de
Liège, onde assina com pseudônimo. Os textos de Georges Sim são apreciados
pela fluidez e pelo tom cáustico, e ele passa a fazer a cobertura literária e
artística. Escreve também colunas humorísticas e colabora com outros
periódicos, depurando o seu estilo, demonstrando uma proficuidade precoce (de 1919 a 1922 escreve quase
800 textos) e acumulando um reservatório de causos e histórias que será o
recheio da sua obra romanesca.
É durante o tenso período do entre-guerras que
Simenon se estabelece como escritor. Em 1920, escreve o seu primeiro romance, Au pont des arches, publicado
no ano seguinte sob o nome de Georges Sim. Em meados da década de 20, muda-se
para Paris com a estudante de Belas-Artes Régine Renchon, com quem se casara em
1923 e sobre quem declarará, mais tarde, ter sido mais uma amiga do que uma
verdadeira paixão. Na França, trabalha como secretário particular. Um de seus
clientes: o marquês Raymond d’Estutt de Tracy, cuja propriedade Paray-le-Frésil
vai se tornar, na ficção, Saint-Fiacre, local de nascimento do comissário
Maigret.
Para sobreviver, Simenon escreve romances
populares – histórias melosas ou relatos de aventuras – em ritmo industrial e
sob os mais diversos pseudônimos: Jean du Perry, Georges Sim, Christian Brulls,
Luc Dorsan, Gom Gut, Georges Martin-Georges, Georges d’Isly, Gaston Vialis, G.
Vialo, Jean Dorsage, J. K. Charles, Germain d’Antibes, Jacques Dersonne. O
casal contrata os serviços de Henriette Liberge, que trabalhará durante anos na
família, tornando-se amante do escritor. Um caso escandaloso com a cantora de
jazz afro-americana Josephine Baker, que faz sucesso na Paris da década de 20,
dá o tom da vida amorosa do já popular escritor (mais tarde, em entrevista ao
cineasta Federico Fellini, ele dirá ter mantido relações com 10.000 mulheres).
Em 1928, os Simenon viajam de navio durante meses através de canais da França.
Será apenas uma das muitas viagens que se tornarão hábito da família e que
fornecerão à obra do escritor vasta paisagem e tipos peculiares.
Em setembro de 1929, o comissário Maigret faz
sua primeira aparição na história Train
de nuit, ainda num papel secundário, e ainda escrito sob pseudônimo
(Christian Brulls). Mas em 1930, no folhetim La
maison de l’inquiétude, Maigret trata de um inquérito do início ao fim.
Simenon oferece à editora Fayard uma série de romances com o personagem. A
proposta é aceita na condição de que Simenon produza, também, romances
populares. Pietr-le-Letton,
o primeiro romance do comissário Maigret assinado por Georges Simenon é
publicado em 1930 no periódico Ric
et Rac. No ano seguinte, a coleção Maigret, com os títulos Monsieur
Gallet, décédé e Le pendu de Saint-Pholien, é
lançada com estrondo. O comissário da Polícia Judiciária francesa rivalizará
com os mais célebres personagens de romances policiais, como Sherlock Holmes e
Hercule Poirot, e será, sem dúvida, o mais humano dos detetives da literatura,
movido por enorme compaixão humana e para quem a compreensão psicológica dos
suspeitos é tão útil quanto o raciocínio. O sucesso da série é imediato e
seguem-se Le charretier de la
providence, Le chien
jaune, La nuit du carrefour, Um crime em Hollande, entre outros. No total,
além de livros de contos, serão 75 romances com o seu personagem mais famoso,
nos quais Maigret, desvenda os mais variados tipos de crimes, tendo como pano
de fundo painéis e críticas sociais. Os romances começam a ser adaptados para o
cinema, e o prestígio do autor entre a crítica cresce.
Simenon
começa a publicar romances pela Gallimard (maior editora francesa da época),
mantendo sempre o fluxo de romances também pela Fayard. A sua crescente
popularidade é atestada pelo fato de, no final da década de 30, começarem a
surgir processos de difamação de pessoas que se identificaram com personagens
de um ou outro livro.
Os
anos da virada da década de 30 para a década de 40 trazem o nascimento de Marc,
o único filho do casal Régine-Georges (em 1939) e o acirramento das tensões
políticas pré-Segunda Guerra mundial: durante a ocupação nazista, a publicação
de livros na França é dificultada (Simenon rompe a sua média de quatro ou cinco
livros por ano e publica alguns títulos através da pequena editora belga La
Jeune Parque). Em 1945, vai para os Estados Unidos com a família onde, com o
auxílio de um novo agente literário, reorganiza o controle da sua obra. Muda-se
para o Canadá e começa a publicar pela francesa Presses de la Cité, que será
sua editora até a morte.
Em
1946 os Simenon instalam-se em Tucson, no estado norte-americano do Arizona,
acompanhados de perto pela tradutora-intérprete Denyse Ouimet, amante do
escritor. Este é profundamente abalado pela morte de Christian, o irmão caçula,
na Indochina. A reação da mãe de ambos é, segundo Simenon: “Que pena, Georges,
que tenha sido Christian a morrer”.
No
final da década de 40 o prestígio literário de Simenon cresce na América do
Norte e em outros locais fora do eixo França-Bélgica, e surgem os primeiros
estudos críticos sobre a sua obra.
Em
1949, nasce Jean, o primeiro dos três filhos que o escritor terá com Denyse (os
outros serão Marie-Jo, nascida em 1953, e Pierre, em 1959). Simenon é cogitado
para Prêmio Nobel, torna-se membro da Academia Real de Língua e Literatura
francesas da Bélgica e é eleito presidente da Mystery Writers of America, a mais
importante associação de autores de crime e mistério. Na década de 50 o
escritor volta a residir na França e, no final da década de 60, com o desgaste
matrimonial, apresenta sintomas de depressão. Teresa Sburelin, camareira de
Denyse (que começa a mostrar sinais de crise nervosa e alcoolismo) será a
última companheira de Simenon.
Em
1972, decide parar de escrever. Maigret
et M. Charles é o 192º e
último romance assinado por Georges Simenon. Com o auxílio de um magnetofone,
dita vários livros – formas livres de monólogo e reflexões gerais – que serão
publicados pela Presses de la Cité. Marie-Jo, única filha do escritor, comete
suicídio em 1978, e ele retoma a pluma para escrever Memóires intimes (Denyse processa o ex-marido por
causa de várias passagens). Simenon falece em 4 de setembro de 1989, aos 86
anos.
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