sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

HILDA HILST uma grande mulher...



Hoje andei lendo um dos livros de Hilda Hilst, como gosto do jeito que ela escrevia, de como foi capaz de falar de amor de um ângulo diferente do que costumamos observar. Escrevia sobre quase tudo, mais o que mais me atrai é que a homossexualidade estava presente em alguns de seus poemas, algo belo e cru. A força arrebatadora de seus poemas nos leva a uma introspecção singular.
Era a única filha do fazendeiro de café, jornalista, poeta e ensaísta Apolônio de Almeida Prado Hilst, filho de Eduardo Hilst, imigrante originário da Alsácia-Lorena e de Maria do Carmo Ferraz de Almeida Prado. Sua mãe, Bedecilda Vaz Cardoso, era filha de imigrantes portugueses.
Por várias vezes teve seus trabalhos levados ao palco, e ainda hoje tem tido suas obras encenadas pelas melhores companhias de teatros do Brasil. Alguns de seus textos foram traduzidos para o francês, inglês, italiano e alemão. Em março de 1997, seus textos Com os meus olhos de cão e A obscena senhora D foram publicados pela Editora Gallimard, tradução de Maryvonne Lapouge, que também traduziu Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa. Muitas de suas obras se esgotaram e não eram encontradas até que a Editora Globo republicou vários títulos. Atualmente com capas brancas e pequenos desenhos coloridos ilustrando cada capa, ficou muito bom mesmo.

 DO DESEJO(HILDA HILST)
E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.

Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer.

Que canto há de cantar o que perdura?
A sombra, o sonho, o labirinto, o caos
A vertigem de ser, a asa, o grito.
Que mitos, meu amor, entre os lençóis:
O que tu pensas gozo é tão finito
E o que pensas amor é muito mais.
Como cobrir-te de pássaros e plumas
E ao mesmo tempo te dizer adeus
Porque imperfeito és carne e perecível

E o que eu desejo é luz e imaterial.

Que canto há de cantar o indefinível?
O toque sem tocar, o olhar sem ver
A alma, amor, entrelaçada dos indescritíveis.
Como te amar, sem nunca merecer?

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