segunda-feira, 22 de julho de 2013

OBRAS DE ARTE RECRIADAS COM LEGO

É melhor não olhar muito de perto a versão de "O Grito", de Edvard Munch, exibida na exposição "The Art of the Brick", na Discovery Times Square em Nova York. Se você chegar perto demais, vai notar que a cabeça foi feita com peças brancas e bege de Lego, com suas pontinhas aparecendo.

A "Mona Lisa" de Leonardo da Vinci, exposta logo ao lado, tem uma superfície mais suave, feita de 4.573 "blocos", mas não há como confundi-la com o original.

O criador do retrato, Nathan Sawaya, está muito satisfeito com o resultado. Ele fez uma releitura "legoística" de obras de arte, assim como construções originais com o material. A exposição de seu trabalho já passou por outras cidades e países.

Tudo foi feito com peças de Lego, usando apenas as cores que a empresa dinamarquesa vende normalmente. O mais importante é que dá para ver que são peças de Lego. Sawaya destaca com orgulho que "uma foto embaçada da réplica feita de blocos poderia ser facilmente confundida com uma fotografia embaçada da 'Mona Lisa' original".

Essa confusão seria menos provável em a "Moça com o Brinco de Pérola", de Vermeer, (1.694 peças) --o ornamento da pintura foi feito com uma esfera de peças de Lego transparentes-- e impossível com a versão em miniatura da Grande Esfinge de Giza (2.604 peças).

Porém, a semelhança com fotos desfocadas é importante, quando percebemos que estamos em uma exposição feita a partir de peças de Lego.

Na verdade, é difícil passar pela versão de "O Pensador", de Rodin (4.332 peças), ou ver "Blue Guy Sitting" (21.054 peças), uma figura em tamanho real criada por Sawaya, sem admirar a ambição e a habilidade do artista. Em "O Pensador", as peças criam um emaranhado de relações no rosto, no braço dobrado e no punho fechado. Em "Blue Guy Sitting", vemos que os blocos moldaram a personificação do contentamento relaxado.

Algumas das construções chamam a atenção por outras razões. O dinossauro (80.020 peças) impressiona pela proporção, ocupando uma galeria inteira. São peças de plástico unidas até se parecerem com os fragmentos quebrados de ossos fossilizados. E a figura moai da ilha de Páscoa (75.450 peças) é tão grande que nem é preciso embaçar a vista para imaginar as curvas da escultura original a partir da construção pixelada.

Nem tudo dá certo: a versão de "Caminhante Sobre o Mar de Névoa", de Caspar David Friedrich (3.002 peças), feita por Sawaya ficou longe "da sensação de reverência causada pela vastidão da imagem" presente no original, segundo a descrição escrita pelo artista. Algumas das obras e comentários de Sawaya possuem uma simplicidade de cartão de aniversário:
"Sonhos são construídos", afirma o texto de uma das paredes, "uma pecinha de cada vez".
Porém, apesar de alguns exemplos embaraçosos, sentimos um prazer muito específico ao ver essas construções. Elas têm algo a ver com o uso de blocos de brinquedo como meio artístico, mas também com o caráter das próprias peças de Lego.

A jovialidade de Sawaya é contagiante. As limitações são parte do interesse. Os blocos de Lego básicos são tão minimalistas que quase qualquer coisa feita a partir deles nos causa espanto.

A forma como Sawaya usa blocos retangulares mostra que não podemos nem mesmo contar com a suavidade das linhas. Assim, vemos que linhas contínuas são criadas a partir de elementos separados.

Suas construções praticamente refletem uma estética do início da era digital, razão pela qual essas obras feitas de peças de Lego podem ser vistas como imagens tão pixeladas quanto uma fotografia digital. Sawaya oferece uma aproximação lúdica da realidade, enquanto celebra o charme das peças de Lego.

FONTE: FOLHA DE SÃO PAULO
EDWARD ROTHSTEIN
DO "NEW YORK TIMES"

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