Herói dos detentos do Carandiru, o Vira Lata chega agora para o público fora das grades. Sete gibis com o personagem, que circularam exclusivamente no presídio entre 1993 e 2000, mais o álbum original lançado em bancas e uma inédita são agora reunidos no livro "O Vira Lata".
Fã de gibis de faroeste como "Roy Rogers", o médico Drauzio Varella sempre arruma um tempo entre suas consultas para conferir as bancas de jornais. Pois em novembro de 1991, bateu o olho em uma HQ da coleção Animal e gostou do que viu.
Tratava-se de "O Vira Lata", criação do músico Paulo Garfunkel com o artista Libero Malavoglia, que contava a história de um justiceiro paulistano em guerra com um grupo de policiais exterminadores. O personagem era filho de uma mulher e de cinco homens, fruto da miscigenação brasileira.
Ele não tinha superpoderes (a menos que você considere que ele levava todas as mulheres que queria para a cama). Havia muito sexo no gibi --e também drogas.
Drauzio concatenou isso tudo com uma cena que havia visto pouco antes no Carandiru, onde prestava serviço voluntário: detentos jogando fora folhetos do ministério da Saúde, que alertavam para o risco de contaminação de Aids por meio do compartilhamento de seringas no uso de cocaína injetável.
Esses mesmos detentos gastavam seu tempo lendo Cebolinha, Tio Patinhas, Homem-Aranha e Batman.
Tudo isso junto desaguou na curiosa parceria entre o médico e a dupla de artistas. Sete histórias exclusivas foram produzidas nos anos 1990, às margens das autoridades carcerárias, e distribuídas entre os detentos.
Algumas mudanças foram pedidas pelo doutor: o Vira Lata pararia de usar drogas, não mataria mais ninguém, só transaria com camisinha e seria um ex-detento.
Garfunkel e Malavoglia se lançaram com vontade ao projeto, que ecoava traços de Hugo Pratt ("Corto Maltese"), Frank Miller ("O Cavaleiro das Trevas"), Goseki Kojima ("O Lobo Solitário") e Guido Crepax ("Valentina").
Segundo Varella, o número de detentos com Aids no Carandiru caiu de 17% em 1989 para 8% em 2000. Uma conquista que contou com a participação de um gibi.
AUTORES Paulo Garfunkel e Libero Malavoglia
EDITORA Peixe Grande
QUANTO R$ 69 (442 págs.)
POR: IVAN FINOTTI
FONTE DE SÃO PAULO
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